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A diversidade étnica do Brasil

3 de novembro de 2022

6 min. de leitura

Crédito da imagem: Operários, obra de Tarsila do Amaral feita em óleo sobre tela no ano de 1933. Fonte: IEA/USP.

Um breve resumo sobre as etnias que originaram o povo brasileiro, uma das populações mais miscigenadas do planeta.

Branca, preta, parda, amarela e indígena. Essas são as cinco categorias utilizadas pelo sistema de classificação por cor ou raça da população nas pesquisas conduzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O último Censo, realizado em 2010, aponta que 47,7% dos brasileiros se autodeclaram brancos, 43,1% pardos, 7,6% pretos, 1,1% amarelos e 0,4% indígenas. 

Já a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (PNAD) de 2021 revela um crescimento relevante no número de pessoas que se autodeclaram negras e pardas. De acordo com o levantamento, 47% dos brasileiros se autodeclaram pardos e 9,1% negros. Especialistas avaliam que a ampliação do debate racial pode ser responsável por esse aumento. 

Estudos como esses ajudam a dimensionar e a representar os diferentes grupos étnico-raciais que convivem no Brasil, além de confirmar a tese de que somos um dos países mais miscigenados do mundo. Para entender melhor os caminhos que levaram o nosso país a essa diversidade étnica, listamos a seguir alguns dos principais momentos que marcaram a formação do povo brasileiro. Confira com a gen-t.

Antes de Cabral

Muito antes dos portugueses aportarem no Brasil, nosso território já era povoado por milhões de indígenas, divididos em diferentes tribos, idiomas e costumes. Os tupis-guaranis na região litorânea, os macro-jê ou tapuias no Planalto Central e os caraíbas na Amazônia são alguns exemplos de tribos nativas do nosso país, que conheciam bem a natureza local e transmitiam seus ensinamentos com base nos princípios de sobrevivência material, cultural e social. 

Durante a colonização portuguesa, os indígenas do Brasil sofreram com epidemias, tentativas de escravização e a imposição de valores culturais e religiosos, como as missões jesuíticas que propagavam o cristianismo. Em entrevista ao portal Uol, a professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Ivani Ferreira de Faria, explica que os povos indígenas brasileiros passaram por um processo de “etnocídio”, uma morte de seus conhecimentos, visão de mundo e filosofias, para que passassem a viver como os colonizadores. 

A trajetória dos povos originários do Brasil sempre foi marcada pela resistência e pelas tentativas de apagamento histórico e cultural. Se antes da invasão portuguesa a estimativa era de 5 milhões de indígenas vivendo no país, o Caderno Temático de Populações Indígenas, lançado pelo IBGE em 2016, indica que esse número despencou para cerca de 900 mil pessoas nos dias atuais.

Os indígenas sobreviventes se dividem entre 305 etnias e falam ao menos 274 línguas diferentes. Esses dados já dão conta da tamanha diversidade sociocultural presente em nosso território.

A colonização portuguesa

Nosso país foi ocupado pelos portugueses em 1500, mas o processo de colonização teve início em 1534 com a implantação do regime de capitanias hereditárias. Estabeleceu-se o Pacto Colonial, em que o Brasil passou a ter suas riquezas naturais exploradas pela metrópole (Portugal), como a cana de açúcar e posteriormente o ouro. Foi no chamado “Ciclo do Ouro”, inclusive, que recebemos um dos mais expressivos grupos de imigrantes de Portugal. 

Vale destacar que nesse período se deram as primeiras intersecções étnicas entre os povos no país, que aconteceram entre homens portugueses e mulheres indígenas, depois entre homens portugueses e mulheres africanas e, em menor quantidade, entre homens africanos e mulheres indígenas. 

Outro marco importante da colonização foi a chegada da Coroa Portuguesa em 1808, após a invasão de Portugal pelas forças de Napoleão Bonaparte. A Família Real deu início a uma série de medidas culturais no nosso país, como a criação do Museu Nacional, do Jardim Botânico e da Escola Real de Artes. 

O período colonial no Brasil se estendeu por praticamente 300 anos, gerando impactos definitivos na formação do povo brasileiro. Sua principal herança é o idioma, mas outros aspectos sociais e culturais como a religião católica, a arquitetura e a culinária também exerceram forte influência na formação da nossa identidade. 

A escravização africana

A utilização de mão de obra escrava foi uma das principais marcas do período colonial do Brasil. Segundo dados do IBGE, cerca de 4 milhões de homens, mulheres e crianças africanas foram trazidos ao país entre os séculos XVI e meados do século XIX. Esse número equivale a mais de um terço de todo o comércio negreiro, praticado desde o século XV até a proibição do tráfico de escravos, em 1868. 

É importante lembrar que não se tratava de um grupo homogêneo, os negros vieram de diferentes regiões da África e, assim como os indígenas, possuíam diferentes tradições sociais e culturais. 

O período de escravidão se estendeu por longos 388 anos, apesar dos diversos movimentos de resistência. O processo de abolição foi lento e tardio, além de não oferecer nenhum tipo de política pública de inclusão da população negra, o que levou a um cenário de desigualdade e racismo que, infelizmente, se faz presente até os dias atuais. 

O que ainda se vê é um contraste entre o número de negros no país e a sua representatividade. No entanto, a ancestralidade africana também é responsável por uma série de influências na formação do povo brasileiro, como na religião, música e dança.

Terra de imigrantes

Indígenas, africanos e portugueses reúnem as etnias que serviram de base para a formação da população brasileira, mas ao longo de seus mais de 520 anos de história, nosso país recebeu imigrantes de todos os cantos do mundo, que se misturaram e geraram diversas combinações multiétnicas que só se encontram aqui. 

Alguns povos merecem destaque, como os holandeses, que invadiram o estado de Pernambuco no século XVII, e os estrangeiros (principalmente italianos, alemães e japoneses) que chegaram no século XIX para substituir a mão de obra escrava nas lavouras de café.  

Se olharmos para a história recente, podemos concluir que os movimentos migratórios ainda se fazem presentes de forma significativa no país. De acordo com dados do Portal da Imigração, mais de 1,3 milhões de imigrantes vivem no Brasil, sendo os maiores fluxos vindos da Venezuela, Haiti, Bolívia, Colômbia e Estados Unidos.

Seria um equívoco cravar um único motivo que justifique a atração (e também a vinda compulsória) de tantos povos para o Brasil. Diferentes momentos históricos e motivações explicam esses movimentos migratórios, mas o que não se pode negar é como eles contribuíram para a formação de uma das populações mais miscigenadas do planeta. A diversidade étnica do Brasil proporciona uma riqueza de valores sociais, culturais e também genéticos, que merecem ser estudados e devidamente exaltados.

Distribuição geográfica das principais correntes migratórias para o Brasil, o que reforça a diversidade étnica da nossa população.

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