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Como funciona o desenvolvimento de novos medicamentos?
13 de outubro de 2022
6 min. de leitura
Entenda como a genômica contribui para a criação e desenvolvimento de medicamentos e tratamentos mais eficazes.
Cerca de 100 anos atrás, em 1928, o pesquisador escocês Alexander Fleming retornava para casa após uma viagem de férias quando percebeu que havia deixado seus materiais de estudo sobre a mesa. Fleming analisava culturas de estafilococos, bactérias que causam infecções na pele e até mesmo doenças mais graves, como a pneumonia. Devido ao tempo, parte dessas amostras esquecidas foi contaminada por mofo e algo curioso chamou a atenção do pesquisador: o bolor fez com que as bactérias ao seu redor desaparecessem. Foi estudando as propriedades deste mofo que ele descobriu a “penicilina“, substância capaz de eliminar bactérias responsáveis pela manifestação de diversas patologias.
A disseminação da penicilina aconteceu anos mais tarde e deu início à chamada era dos antibióticos, reconhecida como um dos principais avanços da medicina terapêutica. Desse período até os dias atuais, diversos outros compostos orgânicos foram estudados, técnicas de análise foram aperfeiçoadas e a tecnologia automatizou uma série de processos, o que acelerou a pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos. Para entender como funciona na prática a criação de novos fármacos, continue lendo este artigo com a gen-t.
Passo a passo para o desenvolvimento de medicamentos
A criação de novos medicamentos tem início nos laboratórios, onde pesquisadores estudam a origem das doenças, reações a tratamentos entre outras variáveis para criar hipóteses e buscar uma solução terapêutica viável. Após esses estudos iniciais, é realizada uma série de testes em células e animais para verificar a eficácia das soluções sugeridas. Esse passo é chamado de fase pré-clínica.
Após o resultado positivo no primeiro passo, acontece a pesquisa clínica, em que o remédio é testado em seres humanos. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável pela autorização destes experimentos, após avaliar seus aspectos metodológicos, científicos e de segurança.
A pesquisa clínica compreende quatro etapas nas quais o número de participantes aumenta gradativamente. Cada uma das fases possui um objetivo específico e, ao final, o que se espera é que o medicamento seja seguro, eficaz e que seus benefícios superem os riscos para a população.
Durante a etapa final da pesquisa clínica, o novo medicamento é submetido à aprovação e registro na Anvisa. A agência realiza uma análise rigorosa dos testes clínicos e exige que os dados obtidos sobre segurança e eficácia do remédio sejam suficientes para apoiar a utilização humana pela via de administração proposta, pela dosagem escolhida, pela duração do tratamento proposto e na população a ser estudada.
O tempo total de desenvolvimento de um novo medicamento no país pode durar mais de 10 anos. É possível dizer que de cada 10.000 moléculas testadas, apenas uma se torna um medicamento que será comercializado, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Farmacogenômica: uma contribuição valiosa na criação de medicamentos mais eficazes
A farmacogenômica é um campo de estudo que avalia a interação entre os genes e os medicamentos. Seu objetivo é possibilitar a identificação do remédio e dose mais eficazes para cada indivíduo, de acordo com sua base genética. Esse conceito está alinhado à Medicina de Precisão, que busca analisar cada paciente de forma personalizada para obter melhores resultados na prevenção e tratamento de doenças.
De acordo com um estudo publicado na National Library of Medicine em 2020, a genômica tem sido utilizada há mais de 20 anos como ferramenta para acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos. A popularização da tecnologia de sequenciamento do genoma possibilitou uma série de estudos sobre a relação entre fármacos e diferentes variações genéticas, beneficiando diversos pacientes em todo o planeta.
Um dos casos mais recentes é o do Evolocumab, desenvolvido para reduzir o colesterol. O medicamento age como inibidor da PCSK9, uma proteína produzida no fígado que degrada os receptores responsáveis por captar o colesterol ruim, chamado de LDL. A criação desse fármaco só foi possível através da descoberta de mutações genéticas relacionadas à presença da PCSK9 no organismo: pessoas que possuíam baixos índices dessa proteína não tinham problemas de colesterol alto.
Outro exemplo está no tratamento de alguns tipos de câncer com o quimioterápico Fluorouracil. Algumas pessoas possuem uma variação genética que reduz os níveis da dihidropirimidina-desidrogenase (DPD), enzima responsável por metabolizar o remédio no organismo. A deficiência dessa enzima pode causar efeitos colaterais significativos durante o uso do remédio. Ao levar em conta a base genética do paciente, é possível desenvolver um regime terapêutico personalizado, a fim de alcançar resultados melhores e evitar complicações indesejadas.
Com contribuições significativas para a criação e aplicação de medicamentos mais eficazes, a farmacogenômica ainda passa por alguns desafios para o seu desenvolvimento pleno. Um deles é a falta de diversidade nos bancos genéticos, que limita o potencial de descobertas.
O Brasil, país marcado pela miscigenação e mestiçagem, tem muito a colaborar com a pesquisa e identificação de novas mutações genéticas. Tendo em vista esse potencial, o Projeto gen-t do Brasil pretende criar o maior e mais diverso banco genético da América Latina.